De Volta ao Brasil, a Missão Continua.

Abril de 2011
Caros Amigos e Irmãos

Após alguns meses volto escrever-lhes trazendo novas reflexões e notícias do nosso projeto de CUIDADO AO MISSIONÁRIO. Aqueles que vêm me acompanhando sabem que retornei do campo africano final de Outubro/10. Lá estive realizando pesquisas, atendimentos psicológicos, palestras e visitas aos missionários brasileiros espalhados nos quatro países por onde pude transitar: África do Sul, Moçambique, Quênia e Malaui.
Somou-se à experiência e vivência transcultural, o contato diário com uma grande variedade de culturas, costumes e línguas que colorem a grande África. De fato foi um tempo inesquecível, que deixou marcas profundas, permitindo-me ampliar a concepção de Vida e de Missão. Tento resumir tudo nestas duas palavras, na perspectiva de que uma reflete-se na outra de modo tão profundo que seria impossível separá-las.
Tenho aprendido com o Mestre ao longo dos anos, que vida sem Missão não é vida, é passar o tempo, é cumprir meramente um ciclo inevitável do nascer ao morrer, é freqüentar e ocupar espaços no mundo, sem sentido e sem legado eterno. Lembro-me do Rick Warren quando diz que “Nada é mais importante do que conhecer os propósitos de Deus para sua vida, e nada pode compensar o prejuízo de não conhecê-los.” Pense comigo, vida sem convicção e exercício da Missão é pura omissão perante Aquele que nunca se omitiu, ainda que isso tenha Lhe custado tudo. Perceba que em todo tempo, a cada dia e situação, o Espírito sussurra e nos pergunta no íntimo: Missão ou Omissão: o que você escolhe fazer?

Adaptação e Impressões:
Enquanto estive ocupada em território estrangeiro, lutando para adequar-me a um mundo estranho, e transitando em busca dos missionários aonde quer que eles estivessem, desenvolvi algumas categorias de novas percepções a respeito do mundo missionário. Algumas muito me alegraram, outras, porém, me provocaram tristeza e até choro. A complexidade e diversidade presentes no mundo missionário são muito maiores do que eu jamais pudera imaginar enquanto missionária no Brasil.
O que se pode ver nos campos africanos a todo instante é uma inesgotável carência do Evangelho e da presença de igrejas seriamente comprometidas com a pura Palavra de Deus, livres da influência da feitiçaria e crendices. A pobreza que todos nós estamos acostumados a ver pela mídia existe, contudo, a escravidão às crenças tradicionais dos antepassados e a miserabilidade da corrupção atuante desde as camadas mais pobres até as mais ricas, é uma desgraça que impede os países africanos pós-guerra de crescerem em todos os sentidos.
Este tem sido o grande desafio dos missionários das diversas nacionalidades que adentram nos campos africanos em busca de levar o Evangelho. Lidar diariamente com a frustração, o engano, a falta de veracidade nas relações com os nacionais, a limitação de recursos suficientes e de mão de obra missionária preparada para a realidade transcultural, é esgotante. Além disso, com quem compartilhar as emoções mais profundas que se acumulam durante os anos de campo? Com a equipe que também se sente esgotada? Com a igreja enviadora? Mas será que estão abertos e preparados para ouvir tudo que eles têm a dizer, e, depois disso ainda continuar apreciando-os e sustentando-os?
Diante de cada uma dessas situações e auto-questionamentos a confirmação do meu chamado foi sendo fortalecida. Alguma coisa me cabe fazer nessa imensidão de necessidades que acometem os nossos missionários no campo. Alegrei-me por ter dito sim ao Senhor, e por perceber, a olhos nus, que não nós com todo nosso esforço, academicismo, tecnicismo e síndrome de heroísmo realizamos alguma coisa relevante neste mundo de missões tão desafiante, mas apenas a abundante graça de Deus insistindo em agir em nós e através de nós, o faz.

Missão em Ação:
Minha pesquisa para a área do Cuidado oficialmente foi realizada com uma amostra de 70 missionários brasileiros que me receberam durante minhas incursões em diversas cidades destes quatro países citados. Contudo, um número bem maior, talvez em torno de 100 missionários entre brasileiros e estrangeiros, teve em contato mais direto comigo, aos quais escutei, ofereci atendimento breve, visitei para encorajamento e até encaminhei para tratamento. O meu tempo de estágio transcultural na África acabou quando pisei o solo brasileiro. Mas o meu aprendizado a respeito dos processos vividos por um missionário que deixa a sua terra para cruzar fronteiras, ainda continua.

A Reentrada:
Passados cinco meses da minha chegada em Recife, sinto que o tempo ainda não foi suficiente para apurar internamente tudo que vivi em campo e realinhar com os passos futuros. Como todos aqueles que retornam, tenho sofrido os reveses de deixar para trás novos amigos formados, um mundo e um povo diferente que passei a apreciar, uma forma intensa e prazerosa de exercer a minha missão, e ainda, partes de mim que só pude conhecer lá em campo africano. Tenho saudades. Ainda procuro encontrar o novo compasso em que minha vida deve andar aqui em terras brasileiras. Mas como boa aprendiz que tenho tentado ser, tenho procurado respeitar o tempo hábil para tudo.
Continuo achando que não há melhor forma de vida do que esta que tenho experimentado enquanto caminho com o Mestre para os mais diversos lugares que Ele tem me levado, tanto no mundo, quanto na alma. Continuo me regozijando NELE.

Pelo que orar?
A Base para o Cuidado: Meu antigo consultório já foi reorganizado graças a Deus. Desde início de dezembro/10 voltei a clinicar no mesmo endereço. Atualmente estou dedicando dois dias por semana aos atendimentos, dando prioridade aos missionários em preparo e em fase de envio. Uma equipe também está sendo formada, conforme orientação do Senhor, para partilhar comigo de modo mais direto desse grande desafio de organizarmos uma Base para o Cuidado. Quanto aos próximos passos estamos pondo em oração e aguardando NELE.

Irmãos, esse é um empreendimento do Senhor para o mundo de missões, não tenho dúvidas. Conto mesmo com suas orações, canal pelo qual Deus escolheu para nos revelar Sua soberana vontade e firmar nossa dependência NELE.

Se desejar ter maiores informações sobre o projeto, por favor, entre em contato comigo. Você também pode acessar o site www.comunidadeamiga.com.br.

A todos que sonham junto comigo com um mundo missionário cada vez mais amplo, mais forte, mais bem preparado e melhor cuidado: Um grande e afetuoso abraço,
Mis. Verônica Farias